quarta-feira, 26 de agosto de 2009

04/05/09 Agradável Distração


O sol se mostrou calmo nesta manhã, nem barulho vindo da quadra que ficava a lado da janela da nossa classe conseguiu vencer os da classe à frente,eu conseguia apenas ouvir as vozes altas de lá conversando e os chutes brutais dos meninos jogando futebol. Aquela manhã continuava igual a todos os dias normais de aula e nada parecia diferente.
A aula de história foi chata e em certo ponto, produtiva. Eu encontrava as respostas facilmente para responder as questões e consegui terminar tudo numa agilidade e ânimo incomum, uma hora e quarenta minutos passaram voando enquanto isso...A aula de história acabou do mesmo jeito que começou, todo quietos, contudo, eu estava contente porque estava bastante interessada em começar a aula de português, ultimamente, tem sido a minha matéria preferida, e eu acho que parte disso se devia a nova professora que tornava a aula muito mais descontraída.
Logo quando bateu o sinal, a professora chegou na sala, colocou sua bolsa sobre a mesa e começou a escrever na lousa o dia em que ocorreriam as provas bimestrais (acho que ela pretendia assustar todo mundo logo de cara!), depois, ela se sentou e começou a falar das baixas notas da classe inconformada e claro, começou a falar dos bons exemplos na classe, como a Emily (para preservar a integridade das pessoas envolvidas e manter os bisbilhoteiros longe da vida alheia, aviso que todos os nomes usados neste blog são trocados, e assim, sem envolver diretamente pessoas externas ou expondo elas a situações desagradáveis - sempre quis dizer isso) que não por acaso ficou com dez na média de português, e isso me irritava demais, ah, como me provocava ódio...E a professora prosseguiu me incluindo nisso, “quem ficou com boa nota também foi o nº12, tirou oito”, eu senti vontade de ser uma das alunas anônimas naquele momento, pois eu queria ter tirado uma nota bem mais alta naquele bimestre, eu me esforcei pra isso,minhas notas nas provas tinham sido 9.5/8/10, mas eu sabia exatamente o que tinha estragado tudo: o maldito trabalho em grupo em que o Paulo e o Leandro foram os únicos que fizeram a parte escrita - já que eles decidiram fazer a parte escrita direto sem avisar ao restante do grupo sobre dividir as tarefas no trabalho -, escreveram e fizeram tudo com o máximo de antecedência e até grampearam, na mesma semana já me apresentaram aquilo mesmo depois de eu ter falado no dia em que a professora passou o trabalho “eu vou fazer o cartaz e cuidar de uma parte da escrita no trabalho” (nerds são surdos e egoístas, por isso ficam tanto tempo sozinhos jogados num canto da sala, no meu caso, é porque eu tenho nojo da falsidade das meninas da minha classe, e parece que a “falsidade” também não me suporta, argh!). Com tanta desorganização, as coisas só podiam acabar em dor de cabeça: eu fiquei com cinco por ter apresentado o trabalho e perdi os outros cinco pontos por não ter feito nada na parte escrita, será por que não deixaram espaço para mais ninguém?Dane-se, eles ficaram felizes com a altíssima nota deles enquanto eu queria estourar-lhes os miolos, não havia mais nada a ser feito, só ver minha nota se degradando com aquilo e se tornando um miserável oito de sempre...
Recorri a Derry para expressar a minha frustração, eu sabia que ele me deixaria melhor de um jeito ou de outro com toda a desenvoltura dele ao se posicionar perto de mim e começar a criar motivos para eu me achar especial.
No recreio, eu olhei o céu, ele não estava muito límpido mas, eu via o brilho esplendoroso do sol refletindo sobre Derry ao caminhar para se aproximar.
- Está meio triste? – Ele percebeu mais rápido do que eu previa, os olhos dele eram como leitores da alma ou um filtro de sentimentos, qualquer pequeno fragmento que existisse chamava a atenção dele e o fazia me interrogar automaticamente.
- Não, é só uma bobagem, você sabe, desapontamento. – Eu estava tentando disfarçar e ao mesmo tendo, fazer um mini draminha para atiçá-lo.
- O que foi?
- Por mais que eu tente, eu não chego aonde as minhas expectativas esperam...Sempre tem algo que estraga!E sempre tem outro alguém que consegue se superar, ou melhor, me superar, porque o céu é o limite pra ela...- Tá, eu estava tendo ataques de inveja de novo, isso não é comum, acalme-se antes de parecer uma fracassada, além de ser uma.
- Hum, nem precisa falar mais nada, eu estava de camarote vendo a professora falando e lhe observando, eu vi que não está muito contente em ser a segunda aluna a ser citada...É, devo admitir que você se esforçou para ter alguma surpresa neste último bimestre, só que deu no nosso querido e invariável oito. – Era melhor não esperar mais consolo dele, para que? Eu tinha coisas melhores a fazer além de me lamentar, e ele fazia o oito parecer tão...Normal,simples e aceitável. – Better lucky in next time.
- I don’t need lucky anymore, I’ve found you, it’s the best thing. – Eu acabei tentando impressioná-lo com o meu inglês fraco e ainda dei uma ótima sugestão para acabar com dor de cotovelo: fazer outra coisa que ninguém pode, falar com o cara mais inteligente e simpático do mundo. - How about talk to me all morning today?
- Well, I think that’s a great idea, but...not today, okay? – Eu juro que pensava que ele ia concordar quando deu um sorriso solene e olhou para o céu dando seus passos para perto do portão, ele sabia mesmo como me fazer acreditar nele até o último segundo e puft, estragar tudo de um jeito que eu não consiguisse questioná-lo.
- Why? – Acho q ele até sabia que eu ia fazer essa pergunta, sou tão previsível...
- Chega de inglês por hoje...O recreio acabou e nós não queremos distrações durante a aula, não é? – Maldito sinal de recreio, sempre estragava tudo na melhor parte!
- Nós quem, cara pálida? Vamos, mais alguns minutos, o que você pode perder com isso? – Eu sempre fazia papel de ridícula tentando arrumar meios de convencê-lo, e era sempre um fracasso antes mesmo dele responder, infelizmente, eu não fiz o mesmo curso persuasivo e manipulador do Derry e era impossível driblar as regras estúpidas dele.
- Eu não perco nada, agora você pode perder a noção do tempo, pode perder o visto, pode enlouquecer e começar a ter delírios frequentes... – O riso dele após tudo não demonstrava só o exagero como o tom irônico dele, o pior é que ele me fazia rir junto e acabava que dava tempo dele fugir enquanto eu ficava sem palavras pra fazer ele voltar. – Já deu, tchau.
- Te vejo de tarde? – Eu estava sempre correndo atrás dele, perceberam?
- Claro, logo depois que fizer a lição de casa kkk – Ele riu de novo, ufa, ainda bem que ele estava brincando porque eu não ia fazer nem que ele me obrigasse.Eu estava com os fones de ouvido no máximo e acabei não ouvindo o sinal, só o que vi foram as pessoas voltando para classe e depois de Derry ir embora só me restava fazer o mesmo, nos meus dias, as partes boas começam quando eu encontro ele e terminam quando ele vai embora, isso era tudo por hoje.

sábado, 22 de agosto de 2009

O luar negro - 28/04/09


Era muito difícil para mim me tornar uma menina madura se algo dentro do meu corpo insistia em ser sempre infantil e continuava fazendo coisas idiotas.
Querendo ou não, Derry era quem me entendia e supria minhas necessidades de conhecer sentimentos novos. Acho que a coisa que eu mais gostava nele era a teimosia, o modo dele nunca respeitar minhas ordens como: se manter ao meu lado constantemente, não se intrometer nos meus problemas, esquecer de dizer quais seriam as conseqüências de tais atitudes que eu tomava...Podia parecer um incomodo na hora mas, graças a ele tudo acabava bem, ele sabia dar os melhores conselhos a alguém perdido, e, no meu caso, a uma menina perdida na escuridão desse mundo cego dos valores que se escondem dentro de uma pessoa.
A cada minuto com Derry eu queria ficar mais tempo ainda, se tornou um tipo de vício voluntário, quase como magnetismo, porém, na maior das aproximações, ambos recuavam.
Após vocês sabem quem aparecer e eu ir para a “terra dos sonhos”, tudo que eu queria me era entregue sem qualquer esforço, mas, só durava enquanto eu estava lá, depois eu “acordava” e prosseguia na minha vida chata e monótona de sempre, aonde os dias não tem diferença, o que muda é só a data.
Incrível, eu podia contar com Derry para me dizer quem eu sou realmente e as infinitas possibilidades donde eu poderia chegar até que, enfim, todos nós acordamos desses devaneios fabulosos e lembramos que nada naquilo foi real, é o que mais dói.
Ele dizia que era incompleto quando estava longe de mim, ou seria o inverso?Discutir sobre sentimentos comigo já era complicado, mas, eu comecei a refletir sobre eles e pensei: “eu sei o que é saudade, angústia, culpa, mas...afinal, que mistérios existem por trás da dor, o que ela é realmente?”, isso ficou martelando na minha cabeça e eu pensava que tinha a quem recorrer: Derry.
Dentro de mais um dos meus maravilhosos devaneios, fui pega de surpresa. Senti as mãos de alguém me tocar, uma se posicionou na frente dos meus olhos me impedindo de enxergar e a outra segurou minha cintura, o tipo de brincadeira que só um cara patético e sem um pingo de vergonha faria...
- Adivinha quem é. – Disse a voz que eu reconheceria a quilômetros de distância. Eu ignorei a pergunta sem graça dele e fui direto ao ponto que eu queria chegar.
- Derry, como você define dor? – Ele me largou e se afastou de mim, sua fisionomia mudou completamente, seu lindo sorriso desapareceu e o brilho de seus olhos se ofuscou, em seguida, ele abaixou a cabeça, se encostou na parede e foi se arrastando por ela lentamente até chegar ao chão, por fim, abraçou suas pernas com seus braços para pensar, não livre de tristeza, deu para notar. Por qual razão ele ficou tão estranho de repente?Fiz apenas uma pergunta.
- Sabe, nós temos os sentimentos bons, agora...Quando quem ou o que os causa se vai e não tem possibilidade de voltar, o que resta? É impossível deixar de sentir, não é? A culpa fica cravada em nosso peito, pressa em nossa mente e consumindo tudo que a gente achava que tinha de bom. Daí a escuridão toma conta de nossos dias e um frio toma conta de nossa alma, passamos a ser a sombra de tudo que sentimos, ou o que passamos a sentir depois que conhecemos essa detestável palavra que todos chamam de dor. Quando os sentimentos bons se voltam contra nós, eles acabam virando contrários ou mesmo pesadelos dentro da realidade, um tipo de revolta onde só sobram coisas como; ódio, tristeza, culpa, rancor, ira, medo e DOR!
Todas as coisas que ele disse me acertaram com mais intensidade do que eu imaginava, algo em mim sangrava, mas nele parecia muito mais implícito, era quase como uma hemorragia que jorrava as vísceras dele para fora e o matava vagarosamente enquanto eu observava sem saber o que fazer. Ele deve sabe tão bem o que é dor que acredito que foi uma péssima ideia lembrá-lo exatamente como é. Derry suspirou e continuou.
- Não podemos sentir dor por algo que não demos valor, as coisas que mais amamos se vão e deixam feridas, elas não cicatrizam, apenas as tampamos até que alguém torne as abrir e tudo que estava aprisionado volte com mais força. As lembranças são a pior parte, “fomos felizes e tivemos bons momentos juntos, agora ela se foi e sou incapaz de sentir toda aquela felicidade novamente!” – As palavras eram frias, ele não me encarou em nenhum instante, era como se ele falasse sozinho, mas sabia que eu estava ali ouvindo. As gotas não puderam se manter e começaram a cair de maneira desenfreada, só que sem nenhum soluço ou lamentação, parecia mais que eram gotas de sangue que não sabiam por onde sair, porém, eu sei que fui eu que causei tudo isso.
- Não existe forma de evitar a dor, deixe-a rasgar sua alma para que depois não reste nada para ser destruído, esse será seu único conforto, quando não restar nada, acabou. – Parecia que finalmente ele tinha terminado, as gotas também pararam, eu me sentei perto dele e fiquei olhando para o outro lado para que ele pudesse se recompor, entretanto, quando eu voltei meus olhos para ele, ele havia desaparecido.
Eu acho que eu só conseguiria entender a dor de verdade se um dia brigasse com Derry e repensasse no que ele disse: “Ia ser um silêncio insuportável, eu perderia a principal parte de mim, e a cada momento, outra e outra iria se quebrar, até que não sobrasse nada além do meu vazio por dentro e tudo chegasse ao fim, acabou...”
Quando eu pensei nisso tudo, senti uma agulhada em meu peito e uma dor indistinguível, então, eu fugi, não era hora de sofrer pelo que viria a acontecer no futuro, era melhor guardar tudo para o momento certo.A culpa voltou, aonde Derry estaria agora? Não muito longe, eu creio. Contudo, ele voltaria brevemente, e eu pediria desculpas.



Sob o brilho da lua minguante, ao lado do mar, eu vi Derry caminhando indiferente e distraído, como se nem tivesse notado a minha presença, apenas o que iluminava o ambiente era o reflexo da luz da lua no mar, e eu olhava os movimentos lentos de ondas para frente e para trás, o som ecoava na minha mente. Derry se encostou sobre o muro baixo e ficou observando o mar, ele estava ofegante, parecia nervoso.
Estava claro que ele não me via, eu estava ali como uma sombra curiosa, vendo se algo nele estava errado, acho que isso é óbvio.
Ele pôs as duas mãos sobre a cabeça, fechou os olhos e levantou a cabeça para dar um grito (muito alto por sinal), parecia que algo terrível pairava sobre ela, tamanho que ele precisava gritar para aliviar o desespero. Quais segredos será que passam pela cabeça dele? Quando toda a angústia dele chegou em mim, a minha vontade era me aproximar e o abraçar, o desviando daquele sofrimento, mas eu ignorei essa hipótese.
Se de manhã e de tarde Derry fora tão doce, ao cair da noite, ele se tornou amargo, irreconhecível. As lágrimas dele começaram a cair novamente, ele passou sua mão no rosto para secá-las e conteve-se depressa.
Por último, Derry se encolheu nos próprios braços e sussurrou numa voz quase imperceptível olhando para a lua:
- Where are you? My body needs your voice to stay better, I forgot one piece of me in you, bring it to here, so, come back to me before that I going get crazy, please!
Eu sai daquele devaneio com medo de não conseguir me controlar e acabar me intrometendo no momento de dor dele. Tem coisas que é melhor não se ouvir...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

20/04/09 - Abandono



Saudações a outro dia monótono, era domingo, esse sempre foi o pior dia da semana para mim, sem dúvida.
Parecia que tinha uma tempestade a se formar e o céu não deixava um raio de sol que seja passar por suas nuvens, ele estava branco, e todo o resto parecia vazio.
Não cheguei a ouvir a voz de Derry sussurrando em meus ouvidos, deveria estar ocupado...O silêncio estava presente no quarto do mesmo jeito que em meus pensamentos, eu não conseguia pensar em nada, era como um louco preso em um quarto branco sozinho.
O eco de minha mente me enlouquecia cada vez mais, formava um túnel de desenhos hipnóticos que pareciam girar, mas, estavam ao mesmo tempo parados e eu percebi que não estava sendo levada por ele, na verdade, eu nem cheguei a me mover...Depois disso, me senti num barco sendo levado pela maré , só que minha vista se embaçou, começou a chover fraco e a minha mão estava jogada para fora do barco, tocando no mar de água gélida, eu estava prestes a dormir naquele devaneio estranho, porém, algo atrapalhou minha viagem sem destino: um clarão e um impacto estrondoso.
Despertei, um ruído baixo me alegrou: era a voz de Derry. O devaneio voltou a fazer sentido, estávamos andando pela rua, sozinhos ao relento, estava ventando muito, paramos em uma praça com um banco e nos sentamos, cada um se sentou numa ponta do banco, relativamente afastados quase calados, eu o fitava sorrindo tentando desafiá-lo a se aproximar um pouco, ele procurava disfarçar o interesse mas, era impossível com sua inquietude.
- Por que você sempre insiste em me atiçar dessa maneira?- Disse ele.
- Não entendo o que você quer dizer com isso, me dê uma razão para eu ter medo de você.
- Não tem que ter medo de mim, exatamente. O perigo real são as coisas que seus sentimentos podem te fazer passar. Não gosto de magoar ninguém, criei minhas regras, entre elas, não me envolver com quem gosto ou que gosta de mim.
- Seu motivo é bem vago, parece até que foge da felicidade, das suas verdadeiras vontades, acho você um louco, brilhante, mas um louco...
- Creio que não foi essa a vida que você sempre almejou: se envolver com um quase estranho que ainda por cima não existe!Se a essa altura eu pudesse tomar uma atitude definitiva eu...- No meio da fale dele, eu interrompi, com o tom de voz muito mais alto que o normal e quase frustrado.
- Me abandonaria?!- Suspirei para me acalmar, irritada. Olhei para Derry novamente focando em seus olhos, angustiada e falei o que entalou em minha garganta ao ouvi-lo me tratar como um problema – Se incomoda tanto assim com minha presença ao seu lado?Ótimo, eu vou embora, seja feliz na sua vida solitária!
Sai andando como um raio e não olhei para trás, se ele ficou ou não, não pude saber, mantive meu orgulho e o deixei sozinho como ele queria, ou então, me deixei sozinha.
Na minha mente, as palavras gritavam e me entristeciam, o meu consciente já sentia a falta dele, tudo em mim implorava para tê-lo de novo: (“sinto sua falta, volte para mim quando essa tempestade acabar, mas se não estiver com a intenção de ficar, nunca me mostre seu rosto novamente”)
Achei que de algum modo, Derry podia ouvir esses pensamentos, não sabia qual seria as reação, mas eu queria mais que tudo de uma forma sentir que ele se preocupava com a minha tristeza, com os meus sentimentos, tanto quanto disse anteriormente.
No meu quarto, deixei que duas lágrimas escapassem e caíssem de meus olhos...Só pude me deixar na cama, ocupar toda aquela infinidade de espaço e fingir sumir, acompanhada pelo torpor até essa angústia ir embora.Esse dia tinha acabado para mim, entretanto, acredito que era apenas isso.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

22/04/09 Dentro da tempestade


Meu corpo estava cansado, meus olhos pendiam e a visão se embaçava, eu não resisti ao olhar para cama, me cobri com o lençol e adormeci.
Quando me levantei, o céu não estava mais azul, a cor predominante naquele momento era o cinza. Me lembrei do que Derry me disse mais cedo: “acho que hoje vai chover”, ele era meio sensitivo de vez em quando, e eu confiava na intuição dele, mas do que em qualquer coisa, só não conseguia entender por que ele falava essas coisas repentinamente. Graças a previsão do mau tempo, eu não fui passear com o meu cachorro, o que era uma pena, pois quando eu andava rapidamente com o Ted, era bem mais fácil eu ter uma conversa aberta com o Derry, era mais intenso...
Por alguns minutos, o silêncio dominou o quarto, eu apenas pude esperar pela chuva, me achei patética, mas, quando olhei para fora eu vi o telhado do prédio ao lado molhado, fui até a janela e olhei para a rua molhada, eu já conseguia ouvir o som do impacto das gotas de água tocando o chão, o barulho dos carros jogando a água acumulada no asfalto para todos os lados e as pessoas se abrigando debaixo de prédios com cobertura, é, o Derry acertou de novo, infelizmente...
Logo, a chuva parou, o sol ainda estava encoberto por nuvens mas, eu me contentei em esperar o brilho do sol radiar novamente no céu, mesmo porque, tudo passa, só o que fica é o efeito causado por tal, e nesse caso, ele desaparece.
Após passar um tempo, eu entrei em contato com o Derry mas, não foi tão agradável quanto eu esperava, ele ficava me lembrando das lições de casa e de trabalhos do colégio, eu odiava quando ele estragava o nosso momento para brigar comigo por causa de assuntos externos, será que ele não entendia que o quê acontecia lá fora tinha de permanecer lá?O problema é que eu não podia ignorá-lo pois na hora dos imprevistos, era ele que me dava boas sugestões e a melhor saída, só não aceitava que eu me recusasse a tentar. Quando eu me sentia péssima, Derry arrumava um jeito de me livrar dessas tempestades turbulentas e me levada ao paraíso, me dava apoio quando eu pensava em desistir e, por fim, era o sorriso dele que iluminava os meu dias...Ele só tinha a cautela de não prolongar nossos encontros por muito tempo, não queria atrapalhar minha vida ou interferir meus planos, era uma regra dele se afastar da minha vida pessoal (ou social).

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

01/02/09


Quando estava em casa sem nada para fazer, colocava os fones no ouvido e viajava para longe, como se nada que eu conhecesse existisse, e tudo que eu quisesse ver se moldasse as minhas vontades e se transformasse no cenário perfeito, mas, para ficar perfeito mesmo faltava alguém com quem eu pudesse dividir essas aventuras maravilhosas, um companheiro que pudesse me distrair e tirar a minha atenção do que acontecia por ali apenas para gastar meu tempo com ele, tão especial que nunca pudesse existir ou ser real...Aos poucos, pude descobrir as feições do garoto, o jeito, em pouco tempo eu já conversava diretamente com ele, ele me ajudava a solucionar meus problemas e dilemas, parecia uma bússola para um navegante perdido.
No começo, foi só uma conversinha, uma faísca que avisava o que viria a seguir, porém, não dei ouvidos a minha intuição (ela nunca foi muito boa mesmo), achava meio ridículo imaginar que tinha um menino chamado Derry que estivesse sempre comigo nos momentos da mais extrema solidão, só que tudo evoluiu duma tal forma que eu comecei a ficar horas em devaneios com ele, andando e fazendo perguntas sobre minhas dúvidas e sobre o mundo afora.
Esquisito, eu não sei exatamente quando e onde começou, só sei que um sentimento cresceu dentro de mim e Derry se tornou a minha única obsessão e desde então, viramos dois amigos inseparáveis e eu sabia tudo sobre ele, mesmo que ele fosse invisível aos olhos alheios e não existisse realmente eu fazia questão de conviver com ele todos os dias.
Cabelo loiro (tingido), uma mecha jogada no olho direito, all star e calça jeans, esse era o estilo de Derry, um emo não assumido praticamente. A pele dele era branca como a neve pois ele era inglês, só que falava fluentemente o português, enfim, era um menino articulado e muito inteligente, que me deslumbrava com sua forma de falar, parecia um intelectual, modesto, é claro, seus olhos eram castanhos claros e quando brilhavam, me encantavam, ele se comportava como um príncipe sendo sempre muito gentil. Ele tinha uma banda, era tecladista e manjava um pouco de violão, sua voz era linda e ele costumava compor músicas interessantes, para me lembrar sempre do rosto dele, pedi uma foto dele parado sorrindo com seus olhos brilhando, para nunca mais esquecê-lo, como uma fotografia eternizada na memória, a melhor lembrança que eu poderia guardar.
O vazio que eu tinha em meu peito foi preenchido pelo belo garoto inglês, ele era incrivelmente diferente de todas as pessoas que eu já tinha conhecido, talvez por isso era tão especial. Não consigo pensar no que irá acontecer no futuro, mas antes, não imaginava que tudo poderia ser tão divertido e surpreendente como nesses dias, a vida me guardou um destino inimaginável e eu fico lisonjeada pois isso é muito mais do que eu merecia.

02/01/09


Eu acordei feliz, supostamente ao menos...Esse era um dia fabuloso, minha velha amiga Cinthia que havia se mudado para outra cidade na região Sul veio para Santos nessas férias, ela me ligou para combinarmos de ir ao shopping ver um filme e hoje era o grande dia, fazia tanto tempo que eu não a via que esperava me surpreender com sua aparência atual.
Não era exatamente um dia ensolarado, estava nublado, eu atravessei a rua rapidamente e cheguei na praça movimentada aonde se localizava o shopping, pessoas andavam rápido para todos os lados, entre ela apenas um chafariz, que deixava o ambiente que nos rodeava úmido, um local agradável para se ficar em dias calorentos mas hoje não era o caso.
O relógio marcava 14:29, eu tinha chegado com um minuto de antecedência como de costume, sempre sou muito pontual quando marco de sair com alguém, uma atitude que inconvenientemente não se tornou recíproca para a maioria dos meu amigos. Dum lugar surgiu uma voz que me chamou das escadas da entrada do shopping, era Cinthia, seu físico havia se conservado do mesmo jeito desde que ela se mudou mas, seus cabelos já não eram mais castanhos com mechas loiras...Estavam vermelhos num tom alaranjado com certo ar indiscreto, porém, não muito chamativo. A pele dela estava clara como nunca, magrela e simpática, seu rosto fez aquele sorriso do qual não via por dois longos anos, lindo, radiante, Cinthia vestia uma camisa de seda longa, fazendo parecer um vestido, com um short curto (muito curto mesmo), entretanto, nada vulgar, a roupa só acrescentava a beleza dela, tenho que ser sincera, ela estava muito mais bonita agora.
- Oi, Jessica. Nossa, que saudade, faz tanto tempo... – Ela estava aparentemente animada mas a voz não mostrava isso, era calma e relativamente baixa, encontrei todos os detalhes esquecidos na memória, o jeito dela era assim, mas, várias coisas ficaram guardadas, minhas lembranças voltaram numa enxurrada de recordações parciais, a sensação era ótima e eu estava feliz em poder vê-la tão perto novamente.
- É, como você está diferente, gostei do cabelo. – Eu não sabia bem o que dizer, existia tanta coisa que eu queria falar para ela mais não lembrava de nada, deu branco na hora, eu só focava meu olhar no dela, jurando que aquilo era um sonho dos que eu não queria acordar nunca.
No período de férias o shopping ficava cheio de gente o dia inteiro, nesse não podia ser diferente, enquanto caminhávamos até a escada-rolante, Cinthia me contava como as coisas em Blumenau eram diferentes, ela disse que lá os meninos ficavam xavecando as garotas por todos os lados e que ela já chegou a jogar o sorvete na cara de um por ter ficado brava dele perseguir ela (ela é meio estressada).
Quando chegamos ao segundo piso, não sabíamos o que fazer direito, passamos pela loja de roupas e olhamos durante alguns minutos até concluirmos que era melhor ver um filme, o melhor que tinha em cartaz era Crepúsculo, então, compramos os ingressos e ficamos dando voltas pelas lojas até chegar a hora do filme. Ao meu ver, Crepúsculo era um filme de terror, com vampiros, só podia ser...Foi um engano, Cinthia me alertou, e eu me desapontei, afinal, eu sempre fui fã de carteirinha de massacres e caras assustadas nos filmes de terror.
Mesmo pensando que o filme seria um lixo, eu fiquei ansiosa já no balcão da lanchonete. Eu comprei um refrigerante e a Cinthia comprou pipoca salgada e refrigerante, nos dirigimos a sala e sentamos nas poltronas localizadas no centro daquela sala enorme, o ambiente estava mórbido, principalmente por causa da musiquinha clássica que o cinema dispunha para entediar o público. De repente, interrompe a música para dizer: “Essa é a rádio cinemark”
- Essa rádio cinemark é péssima. Eles deviam ter vergonha de colocar isso para a gente ouvir! – O senso de humor era outro ponto fortíssimo da Cinthia, isso era algo que tínhamos em comum, alias, era impossível ignorar o ambiente daquela sala, as pessoas sentadas nos outros lugares estavam tão entediadas quanto a gente, aquilo tava mais pra um enterro do que a apresentação de um filme.
- Eles ganhariam muito mais sintonizando na Jovem Pan, mas não...Resolvem nos torturar com essa música clássica. Parece até que só tem velho nessa sala. – Não sou preconceituosa, mas, sejamos sinceros, acho que quase ninguém gosta de música clássica nesse mundo, será que um pop rock não cairia bem melhor?
- Verdade, mas acho que o filme vai ser legal. – Rimos muito antes mesmo de começar, nada poderia estragar aquele dia, ao lado da minha velha amiga até as coisas mais toscas podiam ser artifícios para nos divertirmos.
- É mesmo? – Respondi incrédula sem tantas expectativas.
- Meu irmão viu... – Ela encheu a mão de pipoca e colocou na boca para terminar de falar. – Ele disse que é muito bom. – Eu juro que tentei não rir, entretanto, gargalhei alto e ela ficou me olhando sem compreender o que se passava.
- Vou reproduzir o que você acabou de fazer... – Peguei algumas pipocas, não tanto quanto ela e enfiei na boca imitando a última frase, dessa vez, nós rimos juntas, duas bobonas em crise de riso no escuro da sala (quase ninguém notou, só todo mundo).
Aleluia, a sala entrou em completa escuridão por cerca de alguns segundos e a tela foi iluminada com alguns trailers de filmes que entrariam brevemente em cartaz, não demorou muito até o filme começar...
Bella e Edward, que casal lindo, confesso que para um filme de romance misturando vampiros e momentos dramáticos a história foi super bacana, mas é obvio que não escapou dos nossos comentários satirizando-os. (Quando Edward beijou Bella pela primeira vez, as meninas sentadas a nossa direita ficaram histéricas como se isso fosse lá grande coisa)
- Alguém joga um sapato nelas para elas pararem com essa frescura? – Eu disse brincando e em voz baixa, elas estavam em maior número rsrsrsrs.
- Elas devem ser fãs...Que comportamento ridículo, parece que nunca viram um beijo na vida! – Em matéria de zoação, o céu era o limite, tive que segurar o riso para não incomodar aos “vizinhos”.
(A parte mais engraçada, quando a família Cullen foi jogar baseball e a Esme colocou o boné, preciso comentar o que ela tava parecendo?)
- A Esme parece uma pedreira com esse boné – A Cinthia murmurou e eu tapei a boca pra não rir tão alto quando vi o tufo embolado dentro do boné, coitada...
(No momento em que James encurralou Bella na sala de espelhos ela saca o “mortífero spray de pimenta” e espirra nos olhos dele)
- Como se fosse adiantar alguma coisa...- Nessa hora, James sai correndo atrás dela e a joga no chão brutalmente entre os estilhaços de vidro e morde o pulso dela – Bem feito!Pra aprender a arranjar uma solução decente. – Se bem que ela não tinha outra escolha...Mas e daí?O importante é rir, teve horas em que o meu maxilar começou a doer de tanto que nós rimos das partes mais patéticas.
Tirando as partes de risos, o resto do filme foi serio, eu adorei, superou as minhas expectativas e me deixou até estranha, é isso que acontece quando você fica quase duas horas sentada numa sala escura curtindo os efeitos sonoros e o frio do ar condicionado.
No fim, Cinthia voltou para casa com os pais dela e eu segui o meu caminho, porém, eu me sentia diferente, fiquei quieta e pensativa, imaginando coisas além do que eu achava que era capaz, eu tinha a sensação estranha que alguma coisa tinha mudado a partir daí, mas o quê?

Introdução

O lema do mundo é “nada se cria, tudo se copia”. Para Jessica, as coisas precisavam mudar, ela queria ser diferente, mas, como toda jovem adolescente tinha sonhos malucos que sabia que nunca iriam acontecer.
Passado um longo período de solidão, Jessica começou a gastar seu tempo com devaneios e fantasias mirabolantes...A cada segundo algo se acrescentava ao rosto do garoto em quem pensava (e que certamente nunca existiu), no começo, era só uma face sem rosto escondida numa sombra, depois, apareceram as características, a forma física e todas as feições de uma pessoa normal, Jessica relacionou o seu parceiro ideal a essa fantasia, com defeitos e qualidades diversificadas e um jeito todo especial e romântico, sim, era exatamente isso que ela queria.
Cada dia se tornou especial perto daquele rapaz misterioso e ao mesmo tempo, tão cativante que cuidava dela como uma irmã, porém, não tinha nenhum motivo para ajudá-la, não era real e tampouco bastava a ele dar uma solução a pobre menina solitária e já desapareceria com o vento de volta para a escuridão.
Derry, como se chamava a fantasia ilustre de Jessica acabou se tornando um sonho em vida, em qualquer lugar onde ela estivesse, precisava imaginar que Derry estava ali também, escondido numa sombra observando seus passos e esperando pelo seu clamar para resgatá-la do tédio da rotina habitual que vinha diariamente, quase sem exceções.
O problema de se envolver com uma mentira é que ela acaba lhe envolvendo de uma tal forma que depois, não existem meios de se escapar, de deixá-la para trás e correr para a realidade novamente, é como areia movediça que lhe impede de sair e ainda lhe puxa para mais e mais fundo, em suas profundezas misteriosas, e então a pessoa percebe que do seu destino, não é possível fugir, seja a morte, ou certos tormentos que vem algumas vezes para explorar aquela dor inativa.Com tantas histórias inacreditáveis que realmente nunca aconteceram e lembranças com detalhes extremamente especificados, as memórias fantasiosas de Jessica precisaram ser eternizadas num lugar aonde mesmo que ela se esqueça do quanto isso era importante para ela, nunca deixará de ser um conto lindo, rodeado de conflitos e cercado por um sentimento tão real quanto o por alguém que seja de carne e osso, afinal, tudo em que acreditamos pode ser uma mentira, mas, se o sentimento que os acerca é real, o restante não tem a mínima importância.